quarta-feira, novembro 01, 2006

Mais que uma vitória...

Uma derrota.

Nas eleições de 2006, pelo menos para nós, nordestinos, foi muito mais uma derrota do projeto político tucano do que propriamente uma vitória do governo Lula. Apesar de ele encarnar o mito do nordestino que venceu na vida mesmo sem abandonar suas origens, ele poderia ter sido encarnado por qualquer outro político local comprometido com uma maior preocupação social. Mas Lula soube aproveitar a oportunidade como ninguém.

De uns anos pra cá, a crescente afirmação da identidade nordestina contribuía para este fato. Quer queira, quer não, a ascensão do forró "pé-de-serra" ou "universitário" e daquilo que uns conhecem como forró "estilizado" mas que eu chamo de "metal-farofa-cearense" contribuiu para a afirmação do ser-nordestino, geralmente em contraponto com o ser-do-sul. Talvez mais importante que isso tenha sido o movimento de afirmação da cultura pernambucana por aqui, principalmente depois do advento do mangue-beat. O pernambucano, saudosista como ele só, ficou ainda mais bairrista.

Já Alckmin representava tudo aquilo que para a grande maioria dos nordestinos representa a sua ruína, a sua humilhação: o ser-do-sul. Se, como disse um colega meu, São Paulo representa a avant-garde do país, Alckmin personificava essa vanguarda. E quando falo em vanguarda, digo em todos os sentidos: tanto São Paulo concentra a maior parte do capital econômico-especulativo, produtivo e científico do país, como também concentra o lado ruim da coisa: violência acentuada, um profundo grau de "alienação" (arbitrariedade minha, sinto muito), e, principalmente, uma elite escrotíssima que insiste em tapar os olhos para a realidade em que vive, que acha que se São Paulo tivesse se declarado independente em 1932 seria um país desenvolvido e que, principalmente, odeia nordestinos, a quem identifica todos sob a alcunha de "baianos", ignorando as particularidades culturais e sociais de cada Estado.

Independente do que tenha havido nos bastidores deste primeiro governo Lula, que serviu principalmente aos propósitos políticos do grupo de José Dirceu (a quem não importavam os meios necessários para chegar a seu fim máximo, ou seja, o seu projeto de poder, que é bem stalinista), Lula trouxe de volta a auto-estima dos nordestinos em uma série de medidas nunca antes tomadas, exceto talvez pela iniciativa pessoal de Francisco Julião e de Miguel Arraes no seu governo pré-ditadura. O Bolsa-Família, uma iniciativa adotada em regime semelhante por qualquer governo social-democrata, com toda a desgraça de deixar uma massa dependente de um benefício governamental, pôs comida na mesa de quem antes não tinha o que comer na época da seca.

Ao mesmo tempo, reduziu essa massa dependente de benefícios ao facilitar a implantação de empresas em pólos de desenvolvimento, como o Pólo Industrial de Suape, em Pernambuco, e a expansão das indústrias no Ceará e na Bahia. Projetos de infraestrutura, como os aeroportos de Fortaleza e Recife, a expansão dos portos e a reconstrução da Transnordestina, fora os investimentos em pesquisas de melhor convivência com o semi-árido - o que é o certo a se fazer, uma vez que lutar contra os períodos de seca é como lutar contra a neve no extremo norte da Europa - e a expansão do ensino superior rumo ao interior da região.

É certo que muitas bolas foras foram cometidas neste governo. Desde o início, fui contra a transposição das águas do rio São Francisco, pelo menos não antes de ocorrer um total reflorestamento das margens e nascentes de seus afluentes. Faltam maiores investimentos em saneamento básico e urbanização das favelas. A educação poderia ser bem melhor, e poderiam haver mais incentivos para a constituição de mão-de-obra qualificada. A saúde, então, precisa de investimentos com urgência e uma maior integração dos médicos ao serviço público. E uma maior prioridade de investimentos ao pequeno agricultor. No entanto, uma vitória tucana, ainda que pudesse ser considerada por todos como sendo uma vitória da "ética" sobre a "imoralidade", significaria a perda de todos os avanços ocorridos para nós, nordestinos.

2 Aberto a Opiniões:

Anonymous Anônimo disse...

Aqui em BSB é comum ver carros com um plástico: "Orgulho de ser nordestino".

Eu entendo. Eu sou carioca. :)

abçs

9:26 AM  
Anonymous Anônimo disse...

algo que sempre me impressionou em bsb é justamente o fato de dificilmente se verem brasilienses "da gema", se é que tal conceito existe. parece mais um grande entreposto onde todo o país se encontra.

credo.

1:25 PM  

Postar um comentário

<< Home