terça-feira, abril 11, 2006

Decisões

- Em 1962, pouco tempo depois da Revolução Cubana, a União Soviética resolve instalar uma série de silos de mísseis nucleares na ilha de Fidel. Disparados de lá, os mísseis levariam 15 minutos para chegar a Washington. Estava óbvio que aquilo era uma clara provocação e que os americanos, caso a pressão continuasse, iriam levar as coisas às últimas consequências. Nikita Kruschev, líder soviético na época, tomou a decisão de retirar os mísseis e encerrar o assunto;

- Em 1964, horas depois do golpe militar, João Goulart estava no ar indo para a base aérea de Pando, em Montevidéu, Uruguai, onde receberia asilo político. Ao mesmo tempo, indo na contra-mão de sua decisão, Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, e Miguel Arraes, governador de Pernambuco, iniciavam a articulação para uma guerra de resistência contra os militares. No entanto, Jango tomou a decisão de interromper toda e qualquer movimentação desse tipo. Motivo: próximo à costa brasileira estava uma força-tarefa americana liderada por um porta-aviões classe "Kitty Hawk", com aviões F-4, F-8 e A-4, para ajudar caso houvesse um contra-golpe contra o Exército. Brizola juntou-se depois a Jango no Uruguai, e Arraes, depois de preso, fugiu para a Argélia;

- Depois de um massivo ataque da parte de egípcios e sírios, os israelenses viam-se encurralados durante os primeiros momentos da guerra do Yom Kippur, em 1973, o que levou o general Moshe Dayan a quase usar as recém-desenvolvidas bombas atômicas contra os árabes. No entanto, o gabinete trabalhista liderado por Golda Meir tomou a decisão de arriscar mais uma vez, como fez ao ignorar os alertas do rei Hussein II da Jordânia sobre os planos de ataque iminente de seus compatriotas. Venceram a guerra inapelavelmente;

- Lech Walesa estava em uma bela de uma enrascada em 1981, depois das primeiras greves lideradas pelo Solidariedade em Gdansk, Polônia: fora preso e estava nos porões da ditadura stalinista que imperava na época, liderada por Wojciech Jaruzelski. Ele tinha a opção de deixar as coisas para lá e abaixar a cabeça para o regime. Tomou a decisão de não fazer isso e continuar a lutar por um pouco mais de humanidade nas relações entre o Estado polonês e seu povo;

- Ythzak Rabin, também trabalhista israelense, tinha a oportunidade, no início da década de 90, de quebrar o círculo vicioso de violência com os palestinos e dar início às conversações que poderiam levar o mapa da região a voltar a ser desenhado como deveria ser, ou seja, como foi estipulado pela ONU em 1947. Tomou uma decisão e agarrou a oportunidade, e os acordos da época até hoje são um marco nas relações entre Israel e Palestina. (Pena que teve que pagar com a vida por sua brilhante ousadia);

- Hugo Chávez poderia ter escolhido a alternativa clássica de quem é deposto por um golpe na América Latina, em 2003: pôr o rabo entre as pernas e fugir para o Brasil. No entanto, ele resolveu resistir, e nesse caso ele tomou a decisão de sair triunfante da base naval onde estava encarcerado. Hoje, Chávez está fazendo na América Latina uma experiência única, que trará mudanças profundas à Venezuela. Independente de como a história julgá-lo, depois dele a Venezuela não será mais uma mera república das bananas.

A decisão que estou para tomar nos próximos dias não é tão importante para o destino de uma nação ou do mundo como a que estas pessoas tomaram, mas certamente vai marcar minha vida. Espero que seja a certa.

1 Aberto a Opiniões:

Blogger Edson disse...

Uau. Uau.

Se bem que a essa altura do campeonato não restou quase nada do que Rabin e Arafat fizeram em Camp David. E acho meio canalha culparem só o Arafat pelo que aconteceu, quando mesmo os governos trabalhistas continuaram conolizando a Cisjordânia.

Good luck, old pal.

5:36 PM  

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