quinta-feira, setembro 22, 2005

A greve-relâmpago

Ao postar estas linhas no meu blog, muito provavelmente eu estarei me fazendo de vidraça para muita gente, inclusive amigos meus. Mas a verdade é essa, eu não posso negar minhas opiniões: a greve da UFPE é um erro.

OK, eu sei o quanto os professores e técnicos administrativos ralam para conseguir ganhar o pão de cada dia, o quanto o salário é baixo e defasado, o quanto um aumento de 0,1% é risível... como qualquer empregado especializado, o professor deveria ganhar um salário decente para que não precisasse ficar recorrendo a outros expedientes, como por exemplo ficar dando aulas em faculdades particulares (embora seja proibido, sim, isso acontece).

No entanto, a conversa que se podia ver, há até bem pouco tempo, é que a grande maioria dos professores não queria greve. Por diversos motivos: entre eles, há quem questione a validade do instrumento da greve como artifício de barganha, uma vez que já está muito desgastado. De fato, se você disser a qualquer pessoa neste país que as universidades federais estão em greve, você vai ouvir como resposta: "Grande novidade! Eles fazem isso o tempo todo!". É como se a cada vez que se tem uma infecção no corpo, você toma um antibiótico dos mais potentes, cedo ou tarde o agente infeccioso cria resistência.

Outra coisa que se poderia dizer é que, ao deflagrar uma greve, os que votaram a favor da mesma o fizeram com fins políticos, não de reivindicar melhorias para a classe ou para a universidade (o estudante que cair nessa conversa tem uma enorme chance de dar com a cara na parede). De todos os professores que disseram o "sim" na última segunda feira, boa parte deles está filiada às alas mais radicais dos partidos da extrema esquerda deste país. Acredito que a vontade deles na verdade é aproveitar o momento de crise para exercer a hegemonia no pensamento de esquerda brasileiro, através de um expediente não muito limpo, na minha opinião. São especialistas em bradar discursos que não se alteram desde que Trotskyi foi expulso da URSS. No entanto, eu nunca acreditei que política se fizesse na base do grito e da palavra de ordem. Pelo menos, não depois do "meeting" de alguns partidos comunistas em 1977, que os colocou fora da influência dos soviéticos e dos maoístas.

Sem falar que, deflagrar greve com uma votação real de menos de 10% do total de professores da UFPE, venhamos e convenhamos, por mais que digam que foi por omissão do restante (apesar de que realmente vacilaram), pra mim não é representatividade dentro dos moldes democráticos. É autoritarismo sim, e exatamente do jeitinho que o bom camarada Stálin (ninguém pode negar, senão ele manda matar) fazia com os trotskistas ancestrais deles. E depois reclamam quando os liberais e neoconservadores de direita falam mal do movimento sindical e estudantil: motivo tem de sobra.

As cabeças-pensantes (ou não) de partidos como o PSTU, P-SOL, PCO e PCR, que transformaram os sindicatos em mera massa de manobra política, ao invés de realmente lutar pelos interesses dos trabalhadores, providenciaram tudo para a revolução popular. O aparato ideológico, os meios materiais, os líderes, tudo, exceto talvez o mais importante: a conquista do coração do povo. E, enquanto não entenderem o que ele pensa, sinceramente vão continuar merecendo de mim pouco ou nenhum respeito, da mesma forma que o pensamento neo-conservador.

quarta-feira, setembro 14, 2005

A Casa

Entre 1987 e 1991 eu vivi não em Arcoverde, como muita gente pensa, mas em Passira, cidadezinha próxima de Limoeiro, num lugar onde o Agreste começa a virar Zona da Mata. Dadas as características do emprego de meu pai, ele precisava ficar se deslocando o tempo todo, com uma periodicidade de cerca de 4, 5 anos. É uma política louca, a de RH do Banco do Brasil, mas não se pode negar que foi ela que me fez viajar um bocado.

Nesse período, eu vivi em uma casa extremamente simpática por lá. Não era exatamente uma casa, vá lá, era uma espécie de chácara. A propriedade era bem ampla, com a casa bem no centro da planta baixa. Ela ficava no alto de um pequeno morro, de onde se via quase toda a cidade. Do lado esquerdo de quem olhava para a rua a partir do pátio da casa (que estava construída em uma espécie de terraço em relação à encosta) havia um pequeno bosque com muitas árvores frondosas, e do lado direito, um monte de pinheiros e eucaliptos. Ah, e a valeta onde eu enfiei o carro do meu pai, que inadvertidamente me deixou dentro dele, aos 4 anos de idade, enquanto abria a porta da garagem.

A casa em si tinha apenas 3 quartos, mas era enorme e muito bem dividida. Tinha um maravilhoso pátio na frente e do lado direito, e um espaçoso e arejado terraço. Na sala de jantar, havia uma janela que ocupava toda a extensão da parede que dava para o lado de fora, de uma ponta a outra. Por isso, era muito bem iluminada, mas tinha o pequeno inconveniente de receber a luz da tarde. Pra mim, bobagem, não me importo de ter uma visão privilegiada do pôr-do-sol todos os dias, e nisso a casa era favorecida. O mesmo quanto a iluminação poderia ser dito em relação aos outros cômodos, o que dispensava facilmente o uso de luz elétrica até umas 6 e meia da noite.

Me lembrei da casa pois há poucas semanas sonhei que voltava lá. Parecia que meus pais a haviam comprado, ou alugado, como uma espécie de casa de campo. E estava nevando (!). Não aquela neve pesada, mas o suficiente para manter uma fina camada de neve pelo chão. o que contribuía para aumentar o charme do lugar. Talvez isso tudo seja apenas vontade de comprar ela, se um dia aparecesse dinheiro em minha mão... quem sabe...