quinta-feira, novembro 23, 2006

This is the end...

Me formei.

Diploma na mão, mas nenhum emprego na carteira de trabalho. Este é o grande dilema que se abateu sobre mim e a grande maioria dos meus colegas. O mercado de comunicação de Recife é o pior lugar que você pode imaginar para conseguir um emprego como jornalista. Redações hermeticamente fechadas, grupos de comunicação em crise, uma economia sem escala que não justifica a criação de uma assessoria de imprensa por parte da maioria das empresas daqui. É preciso que alguém morra para abrir uma vaga de emprego.

Em grande parte, isso é motivado pela própria ganância dos grupos de comunicação daqui, uma vez que há espaço o suficiente para, pelo menos, 3 jornais diários com alcance em todo o Estado, sem falar no potencial regional: a Mata, o Agreste e o São Francisco concentram, cada uma, uma população de um milhão de habitantes, pouco mais, pouco menos. Jornalistas de qualidade não faltam, e ainda há público consumidor para uma mídia mais restrita e especializada, como revistas.

Infelizmente, como nem se todos nós, jornalistas, se juntássemos dinheiro, poderíamos formar uma cooperativa e colocar um jornal independente, restam os caminhos alternativos. Quem já tem seu lugar garantido (coisa de dois formandos no meio de 30 e poucos) não larga nem a cacete. Quem não tem, fica na luta ao mesmo tempo que prepara um projeto de mestrado. Uns tantos se preparam para os concursos na área (vão ter dois nos próximos três meses), mesmo que seja em cadastro reserva. Eu sou único que estou estudando pro Rio Branco, ainda que esteja fazendo, de tudo o que eu listei acima, um pouco.

É horrível ficar com a sensação de que estou desempregado. Mesmo que não olhem, fico com a impressão de que, quando falam com você, lhe dizem com ar de desdém "ah, tu és desempregado, é?". Pelo menos antes eu tinha a desculpa de dizer que era estudante. Hoje, nem isso.

Bem-vindos ao meu drama, senhoras e senhores.

sábado, novembro 18, 2006

Antropologia... for dummies

Anos e anos de observação da vida cotidiana das pessoas de minha geração aqui, em Recife, fizeram com que eu produzisse uma bobagem óbvia. É provável que para isso outros fatores contribuíram, mas nada disso teria acontecido se eu não estivesse por aqui. E entrasse em contato com gente de outras cidades. Mas 90%, ou mais, das meninas de classe média e alta que eu conheço ou que eu tenha visto são exatamente iguais. No estilo, na maneira de vestir, na maneira de falar... Se duvida, vamos à análise:

- Vão para Porto de Galinhas, Pipa, Fernando de Noronha, Porto Seguro, ou outra praia chique do momento. Antes, o destino mais badalado era a Chapada Diamantina;
- Uma patricinha bicho-grilo não é uma patricinha bicho-grilo se na lista de mp3 delas não tiver Armandinho, Natiruts, Bob Marley ou a música do caubói viado, sucesso do último verão de Porto;
- É algo mais amplo, mas não deixam de ter: um fotolog com pelo menos 15 fotos por mês nos meses de verão;
- Uma mini-saia jeans, uma blusinha de alça, uma Havaianas de prender no calcanhar e um par de óculos escuros no alto da cabeça;

Frases típicas, postadas principalmente em orkuts e fotologs da vida:

- Para parecer mais fora do mainstream: "Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê";
- Escrachando de vez com o Bahia way-of-life: "Sou praieira, sou guerreira, tou solteira, quero mais o quê?"
- Expressando toda a afetividade de uma maneira assaz inteligente (usado geralmente como legenda de uma foto): "AMO!!!"

Não levem a mal, até por que eu conheço algumas meninas assim. Mas às vezes você não tem a impressão de que as meninas estão saindo de uma mesma fábrica? Confessa, vai, você conhece alguém assim, certo ou errado?

quinta-feira, novembro 16, 2006

Me sentindo vivo

Esta é a sensação que eu tenho desde que comecei a estudar dois turnos para o concurso do Inst. Rio Branco. É, aquele pra diplomata, que todo o ano tem. Nos dois anos anteriores, estudei apenas um turno, e ainda assim interrompi algumas vezes para me dedicar aos projetos da faculdade. Deve ser por isso que bombei feio no concurso deste ano...

Mas eu estou me sentindo muito bem desde que voltei a estudar com carga total agora, no fim de setembro. Resolvi cair de pau nos livros, direcionando meu foco através das apostilas-programa que o próprio Ministério publica. Em pouco mais de um mês, me impressionei com os dois cadernos que já havia enchido com Direito e História. Espero encher mais outros com as outras matérias. Ah, e ter motivos suficientes para continuar estudando após o resultado da primeira e segunda fases...

A rotina de estudos me colocou num ritmo análogo ao de treinamento intenso ao qual estava acostumado, quando treinava aikidô. Deve ser a isso que o O-Sensei Morihei Ueshiba se referia quando dizia que deveríamos mergulhar em um ritmo de treinamento diário e disciplinado, para entender com clareza a plenitude de nossa realidade. Isto, para ele, era o jeito certo de treinar Budo. Para mim, trazer isso para a vida cotidiana mostrou-se como sendo um ótimo exercício de concentração. Estou me sentindo vivo, de verdade.

sábado, novembro 11, 2006

Cordas

Fui ver hoje à noite o quarteto de cordas Iturriaga, que apesar do nome não são bascos, e sim alemães de Leipzig. Eles executaram uma ótima seleção de obras da Europa central, mais precisamente de Mozart, Beethoven e Mendehlsonn-Bartholdy. No final, eles deram uma canjinha com um tango de Astor Piazzola, argentino que, pelo que me contam, era fera no bandoneon. Não sei se isso tem algo a ver com aquela história de "os do norte" acharem que nossa capital é Bueños Aires, mas que se dane. Eles eram ótimos músicos, simplesmente excelentes.

Esse concerto foi parte de uma ótima idéia de projeto musical que está rolando na Livraria Cultura daqui de Recife, durante todo o mês de novembro. Amanhã vai rolar uma banda de jazz daqui do Brasil mesmo. Quem quiser comparecer, basta chegar lá umas 8 horas (mas aconselho umas 7 e meia, por causa da fila) e levar um quilo de alimento não perecível. Fiquem tranquilos, não acho que estejam pegando a comida para vender na feira...

* * *

A presença de Victor Freire neste evento teve o apoio cultural (e indireto) de Velas Nirvana Ltda., Serra Talhada, Pernambuco, Brasil.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Tremollo

*Telefone tocando*
- (risos de piada em casa) Ai, ai... alô?
- (voz de mulher, ca. 20 anos, quase sussurrante) Sou eu...
- Alô, quem está falando?
- ...
- Alô? Alô?
*Click!*

* * *

Muitos e muitos copos de água.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Mais que uma vitória...

Uma derrota.

Nas eleições de 2006, pelo menos para nós, nordestinos, foi muito mais uma derrota do projeto político tucano do que propriamente uma vitória do governo Lula. Apesar de ele encarnar o mito do nordestino que venceu na vida mesmo sem abandonar suas origens, ele poderia ter sido encarnado por qualquer outro político local comprometido com uma maior preocupação social. Mas Lula soube aproveitar a oportunidade como ninguém.

De uns anos pra cá, a crescente afirmação da identidade nordestina contribuía para este fato. Quer queira, quer não, a ascensão do forró "pé-de-serra" ou "universitário" e daquilo que uns conhecem como forró "estilizado" mas que eu chamo de "metal-farofa-cearense" contribuiu para a afirmação do ser-nordestino, geralmente em contraponto com o ser-do-sul. Talvez mais importante que isso tenha sido o movimento de afirmação da cultura pernambucana por aqui, principalmente depois do advento do mangue-beat. O pernambucano, saudosista como ele só, ficou ainda mais bairrista.

Já Alckmin representava tudo aquilo que para a grande maioria dos nordestinos representa a sua ruína, a sua humilhação: o ser-do-sul. Se, como disse um colega meu, São Paulo representa a avant-garde do país, Alckmin personificava essa vanguarda. E quando falo em vanguarda, digo em todos os sentidos: tanto São Paulo concentra a maior parte do capital econômico-especulativo, produtivo e científico do país, como também concentra o lado ruim da coisa: violência acentuada, um profundo grau de "alienação" (arbitrariedade minha, sinto muito), e, principalmente, uma elite escrotíssima que insiste em tapar os olhos para a realidade em que vive, que acha que se São Paulo tivesse se declarado independente em 1932 seria um país desenvolvido e que, principalmente, odeia nordestinos, a quem identifica todos sob a alcunha de "baianos", ignorando as particularidades culturais e sociais de cada Estado.

Independente do que tenha havido nos bastidores deste primeiro governo Lula, que serviu principalmente aos propósitos políticos do grupo de José Dirceu (a quem não importavam os meios necessários para chegar a seu fim máximo, ou seja, o seu projeto de poder, que é bem stalinista), Lula trouxe de volta a auto-estima dos nordestinos em uma série de medidas nunca antes tomadas, exceto talvez pela iniciativa pessoal de Francisco Julião e de Miguel Arraes no seu governo pré-ditadura. O Bolsa-Família, uma iniciativa adotada em regime semelhante por qualquer governo social-democrata, com toda a desgraça de deixar uma massa dependente de um benefício governamental, pôs comida na mesa de quem antes não tinha o que comer na época da seca.

Ao mesmo tempo, reduziu essa massa dependente de benefícios ao facilitar a implantação de empresas em pólos de desenvolvimento, como o Pólo Industrial de Suape, em Pernambuco, e a expansão das indústrias no Ceará e na Bahia. Projetos de infraestrutura, como os aeroportos de Fortaleza e Recife, a expansão dos portos e a reconstrução da Transnordestina, fora os investimentos em pesquisas de melhor convivência com o semi-árido - o que é o certo a se fazer, uma vez que lutar contra os períodos de seca é como lutar contra a neve no extremo norte da Europa - e a expansão do ensino superior rumo ao interior da região.

É certo que muitas bolas foras foram cometidas neste governo. Desde o início, fui contra a transposição das águas do rio São Francisco, pelo menos não antes de ocorrer um total reflorestamento das margens e nascentes de seus afluentes. Faltam maiores investimentos em saneamento básico e urbanização das favelas. A educação poderia ser bem melhor, e poderiam haver mais incentivos para a constituição de mão-de-obra qualificada. A saúde, então, precisa de investimentos com urgência e uma maior integração dos médicos ao serviço público. E uma maior prioridade de investimentos ao pequeno agricultor. No entanto, uma vitória tucana, ainda que pudesse ser considerada por todos como sendo uma vitória da "ética" sobre a "imoralidade", significaria a perda de todos os avanços ocorridos para nós, nordestinos.