domingo, janeiro 28, 2007

O que eu vi

Fui ajudar meu pai hoje na padaria, basicamente ficando no caixa enquanto o mesmo dava uma merecida arrumação no escritório e ajeitava algumas coisas na prateleira - como acontece com muitas padarias hoje em dia, termina-se vendendo muito mais coisas do que pão propriamente dito. Mais ou menos meia hora depois de eu começar, chega um grupo de crianças de rua, que ficou na calçada, pedindo dinheiro aos clientes.

Uma delas estava com um saco de lixo cheio de latas de alumínio, provavelmente para vender. Só que eu não havia percebido antes, e estranhei quando ele passou atrás de uma prateleira e voltou com uma lata de refrigerante na mão. Por um momento, pensei que ele pudesse ter pego das geladeiras, que ficavam ali próximo. Fui lá e perguntei a ele (com aquela delicadeza agressiva, que consegue machucar mais que um grito, pelo que infelizmente percebi) se ele havia pago por aquela lata que ele pegou.

Aí ele timidamente me mostrou a lata. Vazia e amassada.

Fiquei morto de vorgonha. Toma, imbecil, não era você que vociferava contra o capitalismo e de repente tornou-se mais um porco que você tanto reprovava? Mais que isso, ainda teve a coragem de desconfiar de uma pessoa que, naquela situação, estava completamente inocente?

Pedi desculpas, mas senti que aquilo não era suficiente. Assim que despachei todos os clientes que estavam esperando no caixa enquanto isso, providenciei uma bolsa de pães para ele e os irmãos (4 no total). Chamei-o e perguntei o seu nome, era Tiago. Conversei um pouco com ele, que me contou que ainda não estudava mas que ano que vem entraria na escola. Dei-lhe os pães, pedi sinceras desculpas, e fiz dois pedidos antes de ele ir embora: que dividisse os pães de maneira solidária com os irmãos e que não desistisse nunca de estudar; só assim a gente consegue lutar para que nem ele, nem os irmãos, nem nenhuma criança tivesse que pedir na rua novamente.

Não sei se o que eu fiz foi certo. Mas, sinceramente, isso me fez pensar sobre o que eu realmente quero para o meu futuro, e o de minha comunidade, de uma maneira geral. Gostaria que esta situação nunca mais se repetisse.

domingo, janeiro 21, 2007

Como arranjar uma briga de família

Graças a Deus meus pais e minhas avós são criaturas extremamente compreensivas com minhas decisões. Mas se você tem parentes escrotos como alguns tios e tias minhas, aí vai a receita para mandar todo mundo para a casa de Dick (na gíria em inglês, por favor). Papel e caneta na mão:

- A família escrota é fundamental. Os efeitos serão multiplicados se seu pai ou mãe tiver um monte de irmãos e irmãs sem o mínimo de noção ou apreço por ir além de seus horizontes (neste caso, "apedeuta" encaixa com perfeição), complexo de família real ("faço tudo pela minha família", quando na verdade são apenas parasitas) e uma propriedade caquética ideal para esconder parentes indesejados na lida com 10 vaquinhas magras;

- Faça uma escolha não-ortodoxa, mas que vai te fazer muito satisfeito e, na maioria dos casos bem sucedido. Como por exemplo, faça bacharelado em física e dedique-se a pesquisar léptons negativos em passagem por wormholes;

- Mais que isso, dedique-se a avançar em sua carreira indo para um centro de ponta na área a nível nacional ou mundial; usando o exemplo acima, equivaleria mais ou menos a ir para Princeton ou para o CERN.

Está armado o circo. Logo, logo, vão chegar dizendo que é um absurdo que você não estude, que tal objetivo é impossível de ser alcançado (a visão normalmente não ultrapassa os níveis do estado onde vivem), que você deveria deixar de ser um gasto para seus pais e arranjar um emprego qualquer. Se você não deixar manobrar-se por eles, bingo! Briga de família em curso!