terça-feira, abril 25, 2006

Ei, me ouve...

Mais um revés que, graças a Deus, recai somente sobre mim. Felizmente, ninguém vai partilhar desse pequeno momento de sofrimento que se abateu, culpa única e exclusivamente de meus erros. É duro ter que admitir (sim, sou orgulhoso) que errei, mas a maior parte da culpa cai sobre meus ombros.

A gente sofre, eu sei. Eu já tive meus momentos de praguejar, de chorar, de me queixar aos meus pais e aos meus amigos. Mas agora é o momento de reconhecer os erros e partir para a frente. Recolher os cacos e começar tudo de novo.

É disso que eu tenho medo.

Às vezes eu sinto que nessas horas eu precisava da tua ajuda, sabe? É duro prosseguir assim, meio sozinho. O que podiam fazer por mim, já fizeram. Mas ouvir você me daria um pouco mais de força para continuar. É, eu não sou de ferro. No fundo, sou mole feito manteiga derretida. Essa máscara ajuda a enfrentar um pouco a realidade, mas não é tudo.

Se der depois, se tiver um pequeno espaço nessa tua agenda lotada, aparece na minha realidade. Nem que seja só por uns 5 minutos. Não quero dividir esse fardo com você, longe disso. Fico feliz que ele não recaia sobre você. Mas era bom saber que tem alguém olhando os meus passos desajeitados, só por uma questão de segurança.

quinta-feira, abril 20, 2006

O fim prematuro das meditações

O destino, quem diria, adiantou-se e decidiu por mim.

Se vai mudar minha vida? Vai sim. Mas essa mudança eu guardo como o mais belo dos segredos, cujo indício só é revelado por um tímido, insólito e maroto sorriso.

sábado, abril 15, 2006

Meditação, 1

Hoje eu estava ajudando minha mãe com seus planos para a nova padaria/confeitaria/café que ela está para implantar. Saber que finalmente minha família vai poder realizar este velho sonho me agrada, e muito, pois me dá a certeza de que poderei dormir mais tranquilo sabendo que eles estão bem. Entre a listagem da receita do alfajor argentino e da frugtkäge dinamarquesa, de repente me vi fazendo planos para o meu futuro.

Até aí, nenhuma novidade. Sempre me agradou projetar meu futuro, embora saiba que ele não vai a uma distância muito maior que dez, quinze anos à minha frente. Tenho plena consciência do que devo fazer para me sentir satisfeito em minha profissão; os primeiros passos, eu já dei, no intuito de garantir o futuro. Que fique bem claro, no entanto, de que nada adianta meu futuro sem pensar no futuro dos outros.

Raio de pessoa dependente que eu sou. Para ser feliz, preciso que os outros à minha volta estejam felizes, ainda que de vez em quando eu faça questão de resguardar minhas opiniões. Se meus amigos estão bem, estou em paz. Se minha família em escala ascendente está bem, estou em paz. Se meus sweethearts que a vida me deu até agora estão bem, estou em paz.

A minha decisão tem um pouco a ver com isso, e também com o maior cuidado para não machucar mais ninguém como em outras ocasiões eu fiz. Meu futuro em si não tem lá muita importância: eu mesmo me viro como posso. Mas, quando passo a tratar de um possível futuro em comum com outra pessoa, aí as coisas mudam de figura.

O meu brainstorming prossegue. Faltam 2.

terça-feira, abril 11, 2006

Decisões

- Em 1962, pouco tempo depois da Revolução Cubana, a União Soviética resolve instalar uma série de silos de mísseis nucleares na ilha de Fidel. Disparados de lá, os mísseis levariam 15 minutos para chegar a Washington. Estava óbvio que aquilo era uma clara provocação e que os americanos, caso a pressão continuasse, iriam levar as coisas às últimas consequências. Nikita Kruschev, líder soviético na época, tomou a decisão de retirar os mísseis e encerrar o assunto;

- Em 1964, horas depois do golpe militar, João Goulart estava no ar indo para a base aérea de Pando, em Montevidéu, Uruguai, onde receberia asilo político. Ao mesmo tempo, indo na contra-mão de sua decisão, Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, e Miguel Arraes, governador de Pernambuco, iniciavam a articulação para uma guerra de resistência contra os militares. No entanto, Jango tomou a decisão de interromper toda e qualquer movimentação desse tipo. Motivo: próximo à costa brasileira estava uma força-tarefa americana liderada por um porta-aviões classe "Kitty Hawk", com aviões F-4, F-8 e A-4, para ajudar caso houvesse um contra-golpe contra o Exército. Brizola juntou-se depois a Jango no Uruguai, e Arraes, depois de preso, fugiu para a Argélia;

- Depois de um massivo ataque da parte de egípcios e sírios, os israelenses viam-se encurralados durante os primeiros momentos da guerra do Yom Kippur, em 1973, o que levou o general Moshe Dayan a quase usar as recém-desenvolvidas bombas atômicas contra os árabes. No entanto, o gabinete trabalhista liderado por Golda Meir tomou a decisão de arriscar mais uma vez, como fez ao ignorar os alertas do rei Hussein II da Jordânia sobre os planos de ataque iminente de seus compatriotas. Venceram a guerra inapelavelmente;

- Lech Walesa estava em uma bela de uma enrascada em 1981, depois das primeiras greves lideradas pelo Solidariedade em Gdansk, Polônia: fora preso e estava nos porões da ditadura stalinista que imperava na época, liderada por Wojciech Jaruzelski. Ele tinha a opção de deixar as coisas para lá e abaixar a cabeça para o regime. Tomou a decisão de não fazer isso e continuar a lutar por um pouco mais de humanidade nas relações entre o Estado polonês e seu povo;

- Ythzak Rabin, também trabalhista israelense, tinha a oportunidade, no início da década de 90, de quebrar o círculo vicioso de violência com os palestinos e dar início às conversações que poderiam levar o mapa da região a voltar a ser desenhado como deveria ser, ou seja, como foi estipulado pela ONU em 1947. Tomou uma decisão e agarrou a oportunidade, e os acordos da época até hoje são um marco nas relações entre Israel e Palestina. (Pena que teve que pagar com a vida por sua brilhante ousadia);

- Hugo Chávez poderia ter escolhido a alternativa clássica de quem é deposto por um golpe na América Latina, em 2003: pôr o rabo entre as pernas e fugir para o Brasil. No entanto, ele resolveu resistir, e nesse caso ele tomou a decisão de sair triunfante da base naval onde estava encarcerado. Hoje, Chávez está fazendo na América Latina uma experiência única, que trará mudanças profundas à Venezuela. Independente de como a história julgá-lo, depois dele a Venezuela não será mais uma mera república das bananas.

A decisão que estou para tomar nos próximos dias não é tão importante para o destino de uma nação ou do mundo como a que estas pessoas tomaram, mas certamente vai marcar minha vida. Espero que seja a certa.